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Depois do Ensaio, Ingmar Bergman

A ilusão do controle


Depois do Ensaio realça evidentemente a conexão de Ingmar Bergman com o teatro. Todo o filme se passa em cima de um palco. Trata da interação entre um diretor, Henrik Vogler (Erland Josephson), e duas atrizes, AnnaEgerman (Lena Olin), e a mãe dela, Rakel Egerman (Ingrid Thulin) – estaúltima, já falecida, presente num plano imaginário. Peças são citadas nosdiálogos, em especial as de Henrik Ibsen, dramaturgo determinante paraBergman, como Brand e Hedda Gabler, com uma rápida menção a Tartufo,de Molière, obra que Vogler declara não gostar, e um destaque para OSonho, de August Strindberg, autor e texto particularmente importantespara Bergman. Henrik, não por acaso, planeja uma encenação de O Sonho com Anna.



Henrik e Anna firmam elo artístico atravessado por conflitos pessoais. Elea conhece desde pequena. Foi amigo de Mikael, o pai dela, e amante deRakel, mulher emocionalmente instável, também atriz, com quem Annaestabeleceu vínculo passional no decorrer dos anos. Em dado momento,Rakel surge e Henrik começa a dialogar com o passado (“Na minha idade,quando nos inclinamos para frente, às vezes nossa mente entra numa outrarealidade. Os mortos não estão mais mortos. Os vivos parecem fantasmas”,diz), período sublinhado pela imagem do teatro antigo onde os personagensse reúnem em esfera concreta ou imaginária.


Utilizados em montagens anteriores, os objetos de cena são percebidos porHenrik como um acúmulo de tempos. Além de entrelaçar passado epresente, Bergman mostra, ao final, seus personagens fazendo projeçõespara o futuro, mas em tom de certeza. Henrik e Anna divagam – por meiode narração e de diálogos – sobre como os ensaios e a interação entreambos se desenvolverão.


O cineasta ainda propõe uma operação em relação a Henrik ao levá-lo, emalguns instantes, a assumir a narração e, portanto, uma posição distanciadaacerca de uma situação da qual faz parte. Ele expressa a voz dopensamento. Observa-se, afastado, em contracena com as personagens. Vê-se como ator, o que o coloca como participante da cena e tensiona a posturaque ostenta, a do diretor como figura que administra o espetáculo de fora.Henrik manifesta oposição à espontaneidade, à improvisação, e associaçãoa princípios artísticos provavelmente comuns ao próprio Bergman.Exemplos: “eu profano Strindberg”, sinalizando uma fidelidade nadasubmissa à dramaturgia sobre a qual se debruça; “os objetos setransformam no que eu quero”, chamando atenção para o fato de oselementos de cena poderem ser libertados de seus sentidos literais, imediatos, no teatro, num jogo que estimula a imaginação do espectador. Ocontrole, contudo, desponta como uma ilusão, como uma utopia, a julgarpelo envolvimento de Henrik com as duas mulheres. Seja como for, atorese diretores, todos, em graus variáveis, atuam, constatação sugerida numafala de Anna: “como posso me proteger do mundo sem atuar?”.Concebido para a televisão, Depois do Ensaio é um trabalho de portereduzido realizado com parceiros de longa data – os atores ErlandJosephson e Ingrid Thulin, o diretor de fotografia Sven Nykvist – e comuma jovem profissional por quem Bergman externava admiração – a atrizLena Olin. Bergman não aprovou o resultado. Mas essa opiniãodesfavorável do cineasta, estendida a boa parte de sua obra, não torna ofilme menos instigante.

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