Paul Weller, Find Eldorado e os Caminhos da Maturidade Musical
- Frederico Machado
- 29 de jul.
- 3 min de leitura
O "Modfather" Paul Weller nos presenteia com seu mais recente trabalho, "Find El Dorado", lançado em 25 de julho de 2025. Este álbum de covers, o segundo de sua carreira solo (após "Studio 150", de 2004), revela um Weller em fase de profunda reflexão, revisitando o baú de suas influências e oferecendo uma janela para o seu universo musical íntimo.

"Find El Dorado": Tesouros Pessoais Revisitados
Longe da obviedade de um álbum de covers tradicional, "Find El Dorado" é uma jornada por canções que moldaram a trajetória de Weller. A seleção é um dos pontos mais fascinantes: ele desenterra joias de artistas pouco conhecidos ou faixas obscuras que o tocaram ao longo dos anos. Passeamos desde a jazz/soul francesa The Guerrillas ("Lawdy Rolla", de 1969) até a melancólica "Journey" (Duncan Browne, 1974), e até um tema de programa de TV setentista, "Budgie". Essa curadoria audaciosa mostra um artista que se permite explorar, livre de expectativas, revelando um lado mais explorador e menos previsível.
A performance vocal de Weller é um destaque inegável. Sua voz, agora mais madura, ressonante e expressiva, imprime uma identidade única a cada interpretação. Ele não apenas canta as músicas, mas as infunde com sua própria experiência e emoção, transformando-as em algo intrinsecamente seu.
As colaborações pontuais enriquecem o álbum sem roubar o protagonismo. A guitarra sutil de Noel Gallagher e, principalmente, a participação de Robert Plant em "Clive's Song" (de Clive Palmer do Incredible String Band), onde dividem os vocais em uma harmonia inesperada, são acréscimos notáveis que elevam a qualidade do trabalho.
A produção de "Find El Dorado" é coesa e introspectiva. Longe de soar como um simples compilado, o álbum tem uma atmosfera relaxada e confortável, que permite que as melodias e a voz de Weller brilhem. É um trabalho que, em sua essência, celebra o amor pela música e a capacidade de um artista de reinventar o familiar.
A Crítica e o Futuro: As Baladas Sinfônicas de Paul Weller
As primeiras impressões da crítica têm sido amplamente positivas. Há um consenso de que Weller encontrou "ouro em lugares inesperados", dando nova vida a canções que poderiam estar esquecidas. A audácia do repertório e a execução impecável são frequentemente elogiadas. "Find El Dorado" solidifica a imagem de Weller como um artista inquieto, que não se acomoda e continua a desafiar a si mesmo e ao seu público.
Essa fase de maturidade e liberdade criativa nos leva a ponderar sobre o futuro de Paul Weller. Assim como grandes nomes como David Bowie e Scott Walker produziram algumas de suas obras mais ousadas e aclamadas na maturidade, Weller demonstra um potencial imenso para seguir um caminho similar de inovação tardia.
Nesse contexto, a ideia de baladas sinfônicas parece um próximo passo promissor e natural. Sua voz, que ganhou uma profundidade e expressividade únicas, seria magnífica em arranjos orquestrais. Isso permitiria que a rica lírica de Weller – sempre repleta de introspecção, melancolia e observações sociais – ganhasse uma dimensão ainda maior, com a orquestra "pintando" os cenários emocionais de suas composições. Seria uma forma de unir a sofisticação que já vimos em The Style Council com a solidez de sua carreira solo, explorando um novo território grandioso e contemplativo.
Um projeto como esse, seja revisitando suas próprias baladas clássicas com novos arranjos ou compondo material original pensado para uma formação sinfônica, poderia não apenas surpreender a todos, mas também consolidar seu legado como um artista que não para de se reinventar, buscando sempre novas formas de expressar sua arte e sua paixão pela música.
Paul Weller, com "Find El Dorado", mostra que o seu "El Dorado" musical ainda está sendo descoberto, e os caminhos que ele pode trilhar na maturidade prometem ser tão fascinantes quanto sua já lendária carreira.




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