07.04.25
- Frederico Machado
- 7 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de abr.
“Alone” do The Cure me acompanhou na data de hoje.Não vou falar desde já da bela e ótima solidão que me acompanha. Vamos falar de música. De uma música de retorno. E desse início destas páginas. Estranho começar por música esses relatos, quando imaginava que falaria primeiro de cinema. Ou até mesmo literatura. Mas acho que o cinema nesses últimos tempos, tenho tido decepções enormes. Não com os filmes, mas com as pessoas que fazem esses filmes. Estou bem distante de todos que fazem o novo cinema brasileiro. Tanto fisicamente como esteticamente. Acredito que até eticamente. Os amigos que tenho na música me parecem mais humanos hoje m dia. Com suas falhas, mais acertos, que me fazem querer ficar mais próximos deles. Por isso talvez comece pela música, além de realmente ter me iniciado com ela na arte. Tive uma banda de punk rock no final dos anos 1980. E The Cure justamente foi uma das bandas que fizeram me apaixonar por rock. Lembro-me comprando o vinil duplo de Kiss me Kiss me Kiss me nas Lojas Americanas em 1987. Depois o vinil de Desintegration, álbum e músicas que me acompanharam por todo uma vida. Da banda punk que tive, amigos mesmos distantes que me recordo como os grandes amigos que tive na minha vida. Ramires, baixista, apaixonado por política e pela esquerda, radical, Ramones e Dead Kennedy eram suas bandas. Dava mosh em shows do Planet Hemp, banda que chegamos a abrir algumas vezes. Renato, guitarrista, gente boa, gostava de Nirvana, Pixies, virou policial e serve aos outros. Carlos, vulgo Olaria, baterista, bom jogador das peladas que jogávamos no Edifício 72, da Rua Dona Mariana em Botafogo, gostava de heavy metal, cabelos longos atraia as groupies. O nome da banda era Decapitados. Estávamos no Rio de Janeiro onde passei minha adolescência e início da fase adulta. Chegamos a lançar uma demo, que figurou entre as mais vendidas do mês, segundo o Jornal do Brasil da época. Eu escrevia em inglês as letras. Compositor e cantava como um misto de Ian Curtis de Joy Division e Jim Reid do Jesus and Mary Chain. Mas longe de ter seus talentos. Estranhamente, fizemos certo sucesso. Tivemos alguns fãs. A música que mais fez sucesso foi Orbit, baseado livremente na música Where’s my Mind do Pixies, uma pequena surf music enigmática de apenas dois minutos e Going, canção nervosa, uma adaptação de um poema de Philip Larkin no qual coloca aqui abaixo. Era como eu sentia a época.

There is an evening coming in
Across the fields, one never seen before,
That lights no lamps.
Silken it seems at a distance, yet
When it is drawn up over the knees and breast
It brings no comfort.
Where has the tree gone, that locked
Earth to sky? What is under my hands,That I cannot feel?
What loads my hand down?
Ensaiávamos no estúdio de Arnaldo Brandão da banda Hanoi Hanoi, em Botafogo. Eram constantes as bebedeiras e festas. Uma fase arriscada, feliz, livre e cheia de planos para o futuro. Muitos concretizados, maiores até do que imaginava na época. E a volta do The Cure, com o novo disco, me fez perceber que estamos velhos, e o sonho que tínhamos abaixo da lua, com 20 e poucos anos, continuam planando sobre nossas cabeças.
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