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Oppenheimer, Christopher Nolan

Atualizado: 1 de abr.

Oppenheimer era um gênio – ouvi repetidamente ao sair da sala de cinema. O filme, de fato, consegue nos conduzir pela jornada de contradições do personagem-título sem cair no abismo da mediocridade – que seria desenhá-lo como a caricatura que alguns esperariam daquele que criou uma monstruosidade. Nolan nos convence do óbvio: Oppenheimer era o único homem que poderia ter feito o que fez, no momento histórico que aquilo iria inevitavelmente ser feito. Para além dos julgamentos morais. O roteiro é baseado no livro vencedor do prêmio Pulitzer, Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano (Ed. Intrínseca, 2023). Um filme grandioso que deve ser assistido no cinema – porque essa é a razão da existência de todo filme grandioso. Através de um angustiante julgamento kafkaniano, Oppenheimer tem sua trajetória esviscerada. Paralelamente, é apenas no julgamento de Strauss que a verdade nua sai do poço. O filme não se distancia do personagem principal, mesmo diante da assustadora grandeza de sua criação, que é contemplada a uma distância segura. Nolan, acertadamente, se detém a observar microscopicamente nossa humanidade. Por tanto, Oppenheimer é o personagem dos sonhos para todo e qualquer ator. Por tudo, Cillian Murphy é o ator dos sonhos para todo e qualquer cineasta. Mas, Nolan, Nolan é o único homem que poderia ter realizado esse filme. Ninguém melhor do que Kairós para retratar Prometeu. Só um cineasta artesão poderia, poeticamente, se alternar em movimentos objetivos e subjetivos, para nos presentear com um roteiro que certamente supera uma mera adaptação.



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O filme investiga muito além da ambiguidade moral humana. Nolan não tenta pintar algo como a emblemática Guernica. A obra aqui não é um manifesto contra a violência. É uma visão muito mais nuclear. Tal qual o Bhagavad Gita, o filme explora as nossas contradições que são ampliadas em tempos de guerra. Afinal, nada é mais humano do que o desejo de vencer. Nada mais humano do que enfraquecermos dentro de nós o medo – coragem não é ausência de medo – para que nada nos paralise. Sonhamos de olhos fechados, mas precisamos estar acordados para realizamos nossos sonhos. Quando isso ocorre, ficamos em êxtase, embevecidos, mas, como no filme, o ensurdecedor som da explosão nos traz de volta a realidade. Então, em algum momento nos depararemos com as consequências, porque tudo tem um preço. A culpa de Oppenheimer é a culpa de uma nação. Seja ela os Estados Unidos, a Espanha, a Rússia, a Alemanha ou o Japão. Citando mais uma vez, Bhagavad Gita, não coincidentemente, já que é o livro preferido de Oppenheimer, quando o príncipe Arjuna se recusa a lutar, o deus Krishna diz: “Veja em mim o real assassino desses homens... Ergue-te sobre a fama, sobre a vitória, sobre a feliz intenção real. Eles já estão mortos por mim; seja você o meu instrumento.” Oppenheimer sabia que a ciência sempre mata, sejam vidas sejam dogmas. Aqueles que ousam desvendar segredos correm sempre grandes riscos.


Tal qual como o pai da física moderna, Galileu Galilei, Oppenheimer foi perseguido. Apesar de o filme mostrar que em 1963, o governo dos Estados Unidos concedeu a ele o Prêmio Enrico Fermi, como gesto de reabilitação política, foi apenas em 2022, cinquenta e cinco anos depois da sua morte, que o governo americano reverteu sua decisão de 1954 de cancelar sua licença e reafirmou a lealdade do físico. Perseguimos tudo aquilo que não compreendemos porque estamos fugindo da verdade desde o começo dos tempos, porque a verdade é uma destruidora de mundos – não à toa Lúcifer é o portador da luz. Talvez por isso haja no gênio um elemento obscuro – bem afirmou (com conhecimento de causa) Fernando Pessoa. Alguns diriam que nenhuma palavra descreve melhor Oppenheimer que a obscuridade – um homem difícil de ser compreendido até pelos seus pares. “É apenas na lógica que contradições não podem existir” – teria dito Freud. Um filme inevitável, sobre um gênio tão brilhante quanto obscuro, um homem com suas contradições.

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